São três as parábolas narradas no Evangelho de hoje: o joio, a semente de mostarda e o fermento. Todas elas oferecem um aspecto particular ou qualidade do Reino.
A palavra parábola vem do grego cujo significado é pôr junto duas coisas, ou seja, comparar. A definição popular dá conta de que é uma história terrena sobre uma verdade celestial. Difere do conto ou da fábula em que a história da parábola pode ter sucedido ou pode ser real em qualquer momento futuro; e o conto ou a fábula, não.
O joio é uma planta muito parecida com o trigo antes de se formar a espiga. A espiga do joio é muito mais fina do que a do trigo e, frequentemente, está infectada com fungos que a tornam negra e venenosa. Também a própria gramínea tem, como o esporão do centeio, um componente venenoso. O joio só se distingue do trigo quando a espiga amadurece, sendo que a espiga do joio é formada por grãos pretos como de carvão.
O termo de comparação das três parábolas é o Reino dos céus. Apesar do título “dos céus”, ele tem como assento a terra, não no sentido geográfico, mas humano, por isso, é mais exato traduzi-lo por Reinado. O povo que o forma não é o conjunto dos bem-aventurados do céu, mas refere-se à Igreja da terra, formação visível da comunidade dos fiéis que escolheram Jesus como seu Senhor e que estão misturados no campo do mundo com pessoas que não são crentes ou têm outras ideologias, sem descartar que – dentro da Igreja – podem existir também os escandalosos e os que praticam a iniquidade, pois na explicação dada por Cristo aos discípulos Ele transforma a parábola em alegoria.
Jesus identifica-se com esta figura que pode substituir a palavra “o Filho do Homem”. Os judeus a usavam, pois, a expressão “filho do homem” para se referir a si mesmos. Porém, existe um significado que caracteriza a expressão por meio do uso de Jesus em conformidade com Daniel 7,13. “Filho do Homem” era a figura de Israel como reino a ser instaurado definitivamente com a vinda do Messias, que era o representante máximo deste. Podemos afirmar que o “Filho do Homem” é o Verbo enquanto homem, ou seja, Jesus tal e como era visto e contemplado por Seus conterrâneos.
Nas três parábolas com as quais se compara o Reino: a do joio é própria de Mateus sem que encontremos um paralelo nos outros Evangelhos. Somente em 1 João 3,10 encontramos a oposição entre filhos de Deus e filhos do diabo. Estes são os que não praticam a justiça e não amam o seu irmão. A explicação da parábola revela, em parte, o mistério da iniquidade de que fala Paulo em 2Ts 2,7. Esta iniquidade é o fruto de rejeitar a Lei – ou de ignorá-la – e pode ser traduzida por maldade ou perversidade. Quem é o promotor dessa iniquidade é o maligno, o diabo. Nele, nasce a maldade e oposição ao Reino.
Porém, existe o mistério de por que Deus permite o mal e de como combater o mesmo. Sendo Todo-Poderoso e Bondade Infinita, como Ele permite que o mal triunfe de modo que a parte maligna aparenta ser tão forte como a parte que Jesus chama dos filhos do Reino? Por isso existem ideologias em que ao Deus do bem se opõe o deus do mal. Ou será que Satanás é tão forte como Javé? No livro de Jó, encontramos uma resposta parcial quando da instigação de Satanás: Javé permite a experimentação do justo com a única exceção da vida.
Seria melhor chamar de Mistério da Bondade ao que se costuma expor como mistério da iniquidade. Perguntar a Deus por que não destrói o mal é o mesmo que perguntar ao Pai por que não mata o filho rebelde. Deus espera que se torne pródigo e volte um dia arrependido para a casa que sempre será seu lar. Na realidade, aqueles que agem na anomalia estão dissipando os seus bens. “Não sabem o que fazem”, dirá Jesus. O joio não se distingue do trigo, assim como uma árvore estéril não se distingue de uma boa a não ser na época dos frutos.
Deus é o Pai que faz com que o sol nasça também para os maus e a chuva fertilize os campos dos incrédulos. No fim – e unicamente no fim – a Sua justiça acompanhará em parte a Sua misericórdia. Para os que receberão uma eternidade de dor, é justo que recebam uma vida temporal cheia de triunfos e alegrias. Como Jesus disse na parábola do pobre Lázaro, os papéis serão invertidos: “Lembra-te que tu recebeste os bens e Lázaro pelo contrário só os males”.
A influência do diabo é a de semear o joio: propagar que a única maneira de alcançar a felicidade é saber viver na abundância e no prazer, pois não existe o além a quem tenhamos que dar contas de nossas condutas. É difícil diante desse programa de vida pregar uma existência de sacrifício e renúncia, como Jesus pede a Seus discípulos. Por isso, o mal se converte em bem aparente e o verdadeiro bem está oculto aos olhos da multidão.
Livra-me, Senhor, desta semente e abra-me as portas da boa semente que é o Filho do Homem!
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